Quando eu tinha por volta de 17 anos, em minha rua havia um casal de velhinhos.
Eles viviam sozinhos e não tinham filhos. Muito amistosos, sempre falavam comigo e com meu amigo Alexandre quando chegavam à casa deles.
O senhor era conhecido como seu Chico e tinha uma bengala na qual se apoiava. Tinha também um chapéu velho, que usava sempre que ia a um bar da esquina para beber. O médico já o havia proibido de beber e avisou que ele morreria se continuasse com o vício.
Certo dia, eu passava por este bar, quando o vi Seu Chico bebendo, encostado em sua bengala. Ele me cumprimentou com o chapéu, sem dizer uma palavra.
Então fui para casa e, no caminho, encontrei meu amigo Alexandre, que estava em frente ao portão de casa.
Comentei com ele que o Seu Chico estava bebendo no bar, e o meu amigo ficou assustado:
-Você está louco? O Seu Chico morreu faz uma semana!
Fiquei gelado e repeti que acabara de ver o velho. Descemos até o bar e não havia em sinal dele.
Fomos correndo à casa de Seu Chico, onde contei tudo para sua esposa, ou melhor, para a viúva.
Qual não foi minha surpresa com a reposta da velha senhora:
- Eu sei, meu filho: às vezes ele vem me ver também...